A estiagem severa que atinge o estado do Amazonas em 2024 trouxe impactos devastadores às comunidades ribeirinhas, à fauna e à flora da região. O nível dos rios, que já registra as menores marcas das últimas décadas, ameaça não só o abastecimento de água e alimentos, mas também a mobilidade e a subsistência de milhares de famílias que dependem diretamente dos recursos naturais para sobreviver.

Recorde de seca

O Rio Negro, um dos maiores afluentes do Rio Amazonas, chegou a níveis críticos, expondo grandes bancos de areia e impedindo a navegação em muitos trechos. Barcos, a principal forma de transporte em várias localidades, ficam encalhados, isolando comunidades inteiras e prejudicando o comércio e o acesso a serviços básicos como saúde e educação.

De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a seca deste ano pode ser a mais grave desde que se iniciaram as medições há mais de um século. As causas são atribuídas a fatores climáticos como o fenômeno El Niño, que altera o regime de chuvas na região amazônica, além do desmatamento e das mudanças climáticas, que agravam o cenário.

Impactos nas comunidades ribeirinhas

As comunidades ribeirinhas, que vivem às margens dos rios e dependem da pesca, do cultivo agrícola e da extração de recursos da floresta, são as mais atingidas pela estiagem. Com a redução dos estoques de peixe e a escassez de água potável, muitos moradores enfrentam dificuldades para manter suas atividades de subsistência.

Dona Maria dos Santos, moradora da comunidade São Raimundo, no interior do Amazonas, relata que as dificuldades aumentam a cada ano. "O rio que antes alimentava a gente, agora está secando. O peixe sumiu e para plantar está muito difícil. A água que bebemos precisa ser racionada", conta a ribeirinha.

Além disso, os problemas sanitários se intensificam. Com menos água disponível, doenças transmitidas por meio da água, como diarreia e leptospirose, tornam-se mais frequentes, colocando em risco a saúde das populações mais vulneráveis.

Biodiversidade em risco

A estiagem também afeta gravemente a biodiversidade da Amazônia. Com a redução do nível dos rios, muitos animais aquáticos, como peixes-boi e tartarugas, perdem seus habitats naturais e ficam mais vulneráveis. Espécies que dependem dos rios para se alimentar e se reproduzir enfrentam dificuldades, o que pode ter consequências a longo prazo para os ecossistemas aquáticos.

Além disso, a floresta, que já sofre com os altos índices de desmatamento, torna-se mais suscetível a incêndios durante a seca. Em várias regiões do estado, focos de queimadas têm sido registrados, o que agrava a degradação ambiental e libera grandes quantidades de gases de efeito estufa, intensificando ainda mais as mudanças climáticas.

Medidas de combate à crise

Diante da situação crítica, o governo estadual do Amazonas e organizações não governamentais estão tentando mitigar os efeitos da estiagem. Programas de distribuição de água potável e alimentos estão sendo implementados em comunidades mais isoladas. Além disso, medidas de conscientização para a preservação dos recursos hídricos e o combate às queimadas têm sido reforçadas.

No entanto, especialistas alertam que as ações emergenciais não serão suficientes a longo prazo. Segundo o climatologista Carlos Nobre, "é fundamental que o Brasil adote políticas de adaptação às mudanças climáticas, como o reflorestamento e o controle do desmatamento. Caso contrário, a estiagem que vemos hoje será apenas um prenúncio de crises ambientais ainda mais severas no futuro."

A estiagem no Amazonas, em 2024, escancara a fragilidade das comunidades e dos ecossistemas diante das mudanças climáticas. Enquanto soluções estruturais não forem adotadas, a região continuará a enfrentar períodos de seca cada vez mais intensos e imprevisíveis, com consequências diretas para a sobrevivência da floresta e de seus povos.